Luis Renato Bischof, da Tostare Café: ele criou unidades móveis para fugir dos aluguéis
O valor dos aluguéis comerciais dobrou nos últimos quatro anos. O que as redes de franquias podem fazer para se adaptar ao aumento dos custos sem prejudicar a expansão?
O carioca Michel Jager, de 30 anos, vem gastando um bocado de tempo para lidar com problemas de espaço. Ele é sócio da rede de temakerias Koni Store, do Rio de Janeiro. No ano passado, suas 33 lojas faturaram 47 milhões de reais, 19% mais que em 2010. Quando o preço dos aluguéis começou a aumentar, há três anos, Jager se viu obrigado a diminuir quase à metade o tamanho das unidades, que tinham entre 40 e 60 metros quadrados. “Manter lojas grandes estava corroendo os resultados dos meus franqueados”, diz ele. Recentemente, foi preciso repensar mais uma vez o modelo de expansão. “O mercado imobiliário continuou aquecido e ficou cada vez mais difícil encontrar imóveis pequenos”, afirma.
Jager agora voltou a buscar imóveis maiores, com até 150 metros quadrados, que possam ser compartilhados com outras duas franqueadoras — as redes de restaurantes Spoleto e de pizzarias Domino’s, ambas controladas pelo Grupo Trigo, para quem ele vendeu 80% do capital da Koni Store em 2008.
Nesse modelo, os custos fixos, como aluguel e investimento em equipamentos de uso comum, são divididos entre as lojas. “Como os pontos comerciais pequenos estão cada vez mais disputados, ficou mais fácil encontrar lugares maiores e dividir o espaço com outras marcas”, diz Jager. “Com esse novo formato, podemos acelerar o nosso crescimento.” Até o fim deste ano, ele pretende abrir 12 lojas, algumas das quais em praças de alimentação de shopping centers.
Adaptar-se à alta do preço dos imóveis tornou-se uma necessidade para as redes de franquias. Desde janeiro de 2008, os preços dos imóveis mais que dobraram no Brasil – no Rio de Janeiro, cidade com o metro quadrado mais caro do país, os aluguéis aumentaram 107%, segundo levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, de São Paulo.
“O custo com o ponto está comprometendo a rentabilidade das redes”, diz Filomena Garcia, sócia da consultoria especializada em franquias Franchise Store, de São Paulo. “Muitas empresas estão diminuindo o tamanho ou investindo em formatos alternativos.” É o caso dos quiosques, lojas de 6 a 20 metros quadrados, cujo valor do aluguel é, em média, 40% menor que o de uma unidade convencional.
Além de mais caros, os pontos também ficaram mais escassos. De acordo com uma pesquisa feita pela Colliers, consultoria americana que monitora o mercado imobiliário, 2,9% dos imóveis comerciais estão vagos em São Paulo, menos da metade dos pontos disponíveis em 2010, quando o levantamento começou a ser realizado. Nos shopping centers, onde o espaço é mais disputado pelas redes de franquias, há ainda menos vagas — estima-se que, hoje, apenas 2% das lojas estejam disponíveis.
Nos últimos quatro anos, as redes de franquias inauguraram em torno de 28.000 unidades, totalizando 93.000 lojas franqueadas em todo o país, a maioria delas em shoppings, pressionando os aluguéis para cima. “O tempo de espera por um ponto comercial num shopping, que há um ano era de, no máximo, 90 dias, agora pode chegar a quatro meses”, afirma Filomena, da Franchise Store. “Hoje, dificilmente um ponto fica vago mais do que uma semana.”
Segundo estimativas do grupo setorial de fast-food da Associação Brasileira de Franchising, o valor médio dos aluguéis num shopping chega hoje a 250 reais por metro quadrado, o dobro de quatro anos atrás. O custo médio das luvas, como é conhecido o valor que os proprietários cobram para passar um ponto adiante, também dobrou no mesmo período, chegando a 10.000 reais por metro quadrado no ano passado. Por isso, o prazo médio para o retorno do investimento numa franquia instalada num shopping, que girava entre 30 e 36 meses, hoje chega a 40 meses. Para muitos franqueadores, este é, literalmente, o preço a pagar.
Com a inauguração de 72 novos shoppings no Brasil até o final de 2013, a expectativa é que o valor dos aluguéis pelo menos pare de aumentar. “Os novos centros comerciais devem ajudar a equilibrar o mercado, ajustando os preços”, diz Luiz Fernando Veiga, presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers.
Para fugir da briga por espaço, o gaúcho Luis Renato Bischof, de 46 anos, dono de três redes de franquias — os restaurantes de comida japonesa Click Sushi, as cafeterias Tostare Café e as escolas de culinária para crianças Mini Chefs —, mudou recentemente o modelo de expansão. Em vez de disputar a tapa os pontos comerciais disponíveis, ele criou um modelo de franquia móvel, que funciona em um furgão.
Cada veículo da Tostare é equipado com uma máquina de café e uma geladeira para armazenar doces e salgados. Os franqueados podem levar a loja a locais como os estacionamentos de grandes edifícios comerciais ou de grande circulação de pessoas. Já os carros da Click Sushi, que também trazem os equipamentos para refrigerar a comida, podem ficar parados em frente a academias e outros lugares em que haja uma demanda por comida saudável.
O caso do Mini Chefs é um pouco diferente. Nesse modelo, o veículo funciona só como transporte para o professor e para o aparato necessário às aulas de culinária — a ideia é que o franqueado visite os edifícios residenciais, venda o curso previamente e realize as aulas para as crianças no salão de festas do prédio. “Queremos oferecer conveniência aos clientes, levando os produtos e serviços até eles”, afirma Bischof.
O investimento para se tornar franqueado das unidades móveis das redes de Bischof gira em torno de 55 000 reais, menos de 15% do valor de uma loja tradicional, que chega a custar 400 000 reais. “A rentabilidade, no entanto, é maior nos furgões”, diz ele. As redes comandadas por Bischof faturaram 12 milhões de reais no ano passado, cerca de 30% mais que em 2010. Com as franquias móveis, ele espera que as vendas cheguem a 14 milhões de reais em 2012.
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Fonte: EXAME.com